Retorno ao escritório: o problema de US$ 1,3 trilhão

Na era pós-pandemia, a maioria dos aspectos da vida voltaram ao normal. Os espectadores estão voltando aos cinemas, os turistas lotando aeroportos e as crianças voltando para as salas de aula.

A única coisa que ainda segue em transformação: o mundo do trabalho.

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Três anos e meio depois do início da pandemia e o experimento generalizado do trabalho remoto, empresas e governos ainda estão descobrindo como se adaptar às mudanças duradouras na vida empresarial.

Mas têm surgido diferenças gritantes entre continentes e culturas, com os profissionais asiáticos e europeus voltando mais rápido aos escritórios do que nas Américas.

Apesar de ter passado pela  “Grande Renúncia” e as demissões em massa, deixando muitos profissionais angustiados e vulneráveis à exigências de presencialidade, o debate está longe de acabar, ainda com acaloradas discussões sobre o papel dos escritórios, o equilíbrio do trabalho e da vida pessoal e a forma de medir produtividade.

O modo como isto se desenrola acarreta em consequências econômicas significativas, segundo o McKinsey Global Institute que estima que as mudanças do novo cenário do trabalho no pós pandemia pode eliminar até 1,3 bilhões de dólares do mercado imobiliário nas grandes cidades de todo o mundo até 2030.

— Não à toa que as evoluções da flexibilização de modelos e espaços de trabalho anda mais vagarosa do que deveria, a contra-força desse gigante setor, tem alta influência nas dinâmicas econômicas em qualquer cidade. —

“O que fizemos foi juntar algumas ferramentas com band-aid para evitar que o navio afundasse. Mas não fizemos o trabalho difícil de dizer: ‘A forma como trabalhávamos antes não era universalmente boa para todos. E esta é a nova realidade.” disse Phil Kirschner, diretor na JLL , à reportagem da Bloomberg resumida aqui nesse post (artigo completo no link do primeiro comentário)

Culturas, deslocamentos

Em cada país há tendências mais fortes relacionadas aos modelos de trabalho e sua relação com os espaços físicos e a mobilidade, tanto fatores culturais como estruturais das cidades tem impactado a diversidade de caminhos tomados pelo mundo.

“Em alguns lugares, trata-se de malha de transporte público confiável. Outra grande diferença são os tamanhos das casas; nos EUA, eles têm home offices maiores, por isso não acham que o escritório seja um lugar melhor para trabalhar.” disse Phil Ryan à Bloomberg.

Em Hong Kong, por exemplo, apartamentos minúsculos e um sistema de transporte público eficiente deram aos residentes menos motivos para trabalhar em casa.

“As cidades são tão importantes quanto a cultura. As cidades da Europa são mais fáceis de percorrer e reúnem trabalho, vida e lazer. Assim, os escritórios europeus estão mais ligados a comunidades vibrantes do que os EUA, onde os escritórios são mais ditados por leis de zoneamento e em áreas mais isoladas.”, afirma Despina Katsikakis, diretora na Cushman & Wakefield.

Espaço para alugar

As disparidades de preços têm afetado o mercado imobiliário corporativo, onde escritórios vazios e o ritmo mais rápido de aumentos das taxas de juro podem levar à uma crise de dívidas entre alguns proprietários.

Esforços Legislativos

Na Europa, os políticos intervieram para ajudar a moldar o futuro do trabalho, promovendo acordos mais flexíveis. Pelo menos meia dúzia de nações aprovaram ou propuseram legislação para reger o trabalho remoto, alimentada pela proposta de “direito à desconexão” de 2021 da União Europeia, um apelo para conceder aos funcionários da UE direitos legais para se desligarem das tarefas relacionadas ao trabalho e da comunicação fora do ambiente de trabalho e do horário comercial.

O apoio ao “direito de desligar” vai muito além da Europa: governos da Colômbia e Canadá aprovaram medidas semelhantes e o Quenia está considerando adotar. Além disso, a Câmara holandesa aprovou no ano passado uma lei que estabelece o direito legal de trabalhar em casa.

A Holanda ocupa o quinto lugar mundial em número de empregos remotos disponíveis, de acordo com dados recentes da Lightcast e Revelio Labs.

O governo de coligação da Irlanda aprovou em Abril uma lei semelhante sobre o trabalho remoto.

Na Bélgica, em fevereiro de 2022, os profissionais ganharam o direito à semana de trabalho de quatro dias sem decrescimento de salário (como defende a 4 Day Week – Global).

Fora do horário

Dados da Microsoft Corp., encontrou o chamado “terceiro pico” de produtividade após as 21h durante a pandemia, com o usuário médio do Teams enviando 42% mais bate-papos fora do expediente em comparação com o início de 2020.

Depois, há pessoas que passaram a trabalhar remotamente em locais totalmente novos, muitas vezes fazendo logon em horários não convencionais.

Lisboa despontou no mundo como um dos lugares chave para o trabalho remoto. Em seis meses, foram concedidos 930 vistos deste tipo, e com isso Lisboa foi o centro de trabalho remoto mais visitado em 2022, de acordo com a Nomad.

Porém, como acontece com tudo que centraliza demanda, os aluguéis e os preços dos imóveis por lá dispararam e, em fevereiro de 2023, o governo anunciou encerraria o seu programa de “visto gold” para obtenção da cidadania para estrangeiros que investem em imóveis no país.

A Irlanda fez o mesmo e outras países da União europeia têm se tornado menos acolhedores por conta desse boom de nômades digitais que causou alta nos preços locais.

Em resposta a isso, os nomades digitais estão buscando agora ir além de EUA e Europa, oito dos dez centros de promoção de trabalho remoto com crescimento mais rápido em 2023 até agora estão na Ásia, incluindo Tóquio, Seul e a cidade de Ho Chi Minh (Conforme tabela acima).

O que vem pela frente

“O verão está acontecendo e as pessoas querem estar mais fora, então vamos ver como as coisas irão se normalizar agora em setembro”, disse KeyAnna Schmiedl, diretora da Workhuman.

Em resumo, qualquer líder que continue esperando que as coisas “voltem ao normal” de como era antes da pandemia, ficará frustrado, porque o local de trabalho é bem diferente agora, por que trabalho não é mais um lugar para onde as pessoas vão, é algo que elas fazem – e quando, onde e como isso acontece não está mais escrito em pedra.

“A Covid foi um portal pelo qual atravessamos, e não vamos voltar”, disse Phil Kirschner, da McKinsey.

Nenhum movimento nessa magnitude, que estamos vivendo no universo do trabalho, é simples de acontecer. Leva tempo, há idas e voltas, acomodações em novos avanços, culturas a serem questionadas e redesenhadas, mercados enormes já estabelecidos, como o imobiliário, que são chacoalhados… enfim, muita água para rolar ainda nesse tema. Eu e nosso time da spacein | tecnologia e dados e work.in.lab seguiremos atentas para trazer as melhores soluções para integrar cultura, pessoas, espaços de trabalho e mobilidade, suportados por tecnologia e dados.

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